segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cult de que?

Na cidade tudo segue em um ritmo do compasso de um frevo. Como seria diferente na cidade do frevo? São as cores, os coloridos, as pessoas, as roupas, as comidas, os modos, os risos, os contos, as histórias, as vozes ouvidas e não, as ruas, o chão, a praça, a torre, os prédios, os buracos, os odores, os cheiros, as barracas, os olhares, os encontros esperados e inusitados, os vestígios, o que tem, o que não tem, o que sobrou e o que virá.


É acelerado, rítmico, humano, desumano. É somente o que se tem e o que se pode oferecer na Veneza que se faz luz do dia e do sol, da noite e da lua e dos postes iluminados que recebem o colorido disfarçando em tantas cores a calma de alguns e cintilando outras tantas euforias por aqui.

Cabem em todos os sentimentos os manifestos dessa cidade é adversa e convergente, nesse âmbito, sem descriminar. Então por que fazer nela uma nata tão sem sumo, onde o mais vago conceito se deixa sobressair? Acalmasse esse espírito, não descriminava cor, nem azul e nem vermelho. Não descriminava cheiro, nem odor. Não descriminava som, nem o frevo, nem o rock. Não descriminava grupos, nem os gregos, nem os troianos.

Não se façam grupo seleto, de poucos, de ninguém. Pois há mais em ser sustento do que ser somente o ‘Cult’, com cultura adquirida num forçado traço europeu e retrocesso repetido do reflexo que acredita ser seleto, mas não há cor, ou pensamento, ou direção, ou opção de ser o que se é enquanto indivíduo e do que se tem por essência. De se libertar para si, de se descobrir por si, de saber qual sua cor, seu gosto, seu espaço, seu jeito não copiado, seu estilo por si só.

Pensar para alma e retirar todo o ‘não seu’ que existe. Vazios se tornam os que poderiam pensar, mas se comanda por qualquer coisa ‘Cult’ que produzam e exponham por aqui na nossa terra de cores tão nossas, é triste.

domingo, 29 de agosto de 2010

Retrato

Imediatismo. Seria esta apalavra mais adequada para sintetizar o jornalismo contemporâneo? Na realidade o termo ‘corrida pela notícia’ nunca se encaixou tão bem no mundo da comunicação quanto nos dias atuais. E o mundo tecnológico é personagem principal desse enredo. RSS, Newsletter, Blogs, microblogs, o mundo da web vem buscando cada dia mais ferramentas para trazer a notícia em tempo real ou com a menor distância de tempo possível do fato.  
O leitor se habituou e o profissional de comunicação não pode ficar pra trás. Se antes acontecimento de uma catástrofe rendia milhares de ‘suítes’, hoje ela rende o mesmo, a diferença é que os fatos que levavam dias para serem produzidos e apurados com ajuda da tecnologia estarão disponíveis na web em questões de segundos, e o mais impressionante, não se resumirá apenas a texto, mas fotos, vídeos.
E aí que entra o fascínio da informação via internet, numa leitura seletiva e não linear conseguimos através de hiperlinks uma infinidade de informações e nas suas mais variadas formas de se apresentar pela facilidade e riqueza da multimidialidade gerada pela web. 

Ambiente ao Meio (encomendado e feito especialmente para meu pai)

Mangues, mares e rios
Poluir não é direito
Contudo segue o homem
Destruindo sem preceito

Meio ambiente é mesmo
O meio em que vivemos
Homem, planta e bicho
Nascemos, crescemos, morremos

É tudo um ecossistema
Dependemos uns dos outros
A árvore que nos abriga
Protege de chuva ou de sol
O bicho que nos fornece
O importante alimento
Além de ser companhia
Em solitários momentos

E com essa rima eu sigo
Pedindo toda a atenção
Pra aquele bicho que pensa
O bicho homem em questão

Não destrua nosso meio
Ele é a solução
Pra fome, pro frio e pra sede
Pra tudo que lhe depende
Não merece ingratidão

sábado, 28 de agosto de 2010

Excluídos por uma fatia

Numa sexta-feira à noite eu e uma amiga resolvemos ir até o Supermercado Pão de Açúcar, no bairro dos Aflitos, para comermos uma pizza feita na hora em forno à lenha, que por sinal é deliciosa. Não estávamos com muita fome, mas com muita vontade de comer e num consenso resolvemos então pedir uma pizza com oito fatias.


Depois de três fatias e meia cada uma estávamos mais que satisfeitas e alimentadas, resolvemos então enrolar a última fatia em alguns guardanapos para que a caminho da parada de ônibus quando encontrássemos algum morador de rua oferecêssemos o alimento. Começou a nossa Saga.

Quanta presunção a nossa. Acontece que andamos cerca de quatro quarteirões e se quer houve rastro de moradores de rua entre os Aflitos e o bairro das Graças. Andamos em busca de alguém que estivesse faminto e somente achamos restaurantes, galerias, posto de gasolinas, lindos e antigos casarões, sem falar nos altos e luxuosos prédios construídos e em construções e toda a classe média que desfruta tudo isso.

Ironia não? Logo no Recife, cidade que possui centenas de pessoas morando nas ruas, onde o dia-dia urbano denuncia a mazela de um poder concentrado em poucos, da negação da informação e formação, e o olhar costumeiro para tudo isso.

É confortável sair pelas ruas e imaginar que tudo está bem, que não há fome, não há dor, não há medo, não há ‘poluição visual humana’ nas calçadas. Excluir o excluído de certa área é cômodo para quem vive ali. Eu não vejo a miséria e, com isso, esqueço-a, ela não se faz presente no meu dia-dia.

Jogo ‘o feio’ que já vive à margem para fora dela, depois da linha imaginária. A revolta não é não encontrar moradores de rua naqueles bairros vizinhos, é a ciência de que o problema existe. Bastou sair em direção ao centro da cidade, caminho de casa, e estavam lá ao redor, inclusive, de um comício político, várias pessoas nas calçadas, nas pontes, nas ruas, com fome, com frio, sem nada.

Os invisíveis quando não visíveis se tornam muito mais invisíveis.